Ao longo da história da medicina, a forma como o médico se relaciona com seu paciente mudou. Se, antes, essa relação era hierárquica e focada na cura da doença, hoje, o modelo que mais se debate é o do método clínico centrado na pessoa. Neste post, você vai entender melhor como dar diagnóstico pode tornar-se mais fácil após a construção de uma relação terapêutica. Boa leitura!

Os modelos antigos de relação médico-paciente

Na década de 70, o professor Robert Veatch (Universidade de Georgetown, EUA) sistematizou alguns modelos de relação médico-paciente, sendo eles:

  • Sacerdotal: É o mais arcaico, no qual o médico possui uma relação paternalista e de dominação em relação ao paciente, desconsiderando sua vontade, crença e valores.

  • Engenheiro: Aqui, embora o médico ainda tenha uma postura de autoridade, o poder está nas mãos do paciente. Nesse caso, o médico apenas executa o que é demandado pelo enfermo.

  • Colegial: Não há diferenciação entre os papéis do médico e do paciente, havendo compartilhamento igualitário do poder. Embora possa soar ideal, esse modelo é criticado, porque ameaça a finalidade profissional da relação médico-paciente.

  • Contratualista: É o que mais se aproxima do método clínico centrado na pessoa. O médico mantém uma postura de detentor do conhecimento técnico, mas deixa com que o paciente participe ativamente no processo de tomada de decisões, levando em consideração o ser biopsicossocial integralmente. A ideia é que haja compromisso entre as partes no tratamento.

Construindo uma relação terapêutica

Escute ativamente

Procure se atentar minuciosamente para o que o paciente está tentando comunicar, sem interrupções iniciais e usando de habilidades verbais e não verbais para estimular que ele continue falando.

Valide o sentimento e forneça respostas empáticas

Essa é uma das técnicas que mais reforçará seu vínculo com o paciente. Para transmitir empatia, é necessário identificar os sentimentos e indagar sobre eles em vez de presumir que sabe o que o interlocutor está sentindo. Perguntas e afirmações como: “você parece triste”, “compreendo”, “como se sentiu com relação a isso?” e “isso é realmente estressante” são bastante úteis nesse processo, pois mostram que os anseios são legítimos.

Seja parceiro

Após ter certeza do diagnóstico, você poderá dizer de forma competente ao paciente o que está acontecendo, transmitindo a confiança de que seus problemas foram entendidos e serão abordados. Deixe explícito seu desejo de colaborar de forma permanente, mesmo se ainda houver dúvidas com relação ao caso.

Comunicação de diagnósticos difíceis

Um diagnóstico tem o potencial de representar vulnerabilidade, estigma ou ameaça à vida. Como médico, provavelmente você já ouviu falar no protocolo SPIKES, que ajuda na comunicação de notícias difíceis em 6 etapas:

  • Etapa 1: Reveja exames, tratamentos anteriores e literatura sobre o paciente, busque um ambiente com privacidade e certifique-se de que não será interrompido. Se for do desejo do paciente, envolva pessoas importantes pra ele nessa etapa.

  • Etapa 2: Antes de dar o diagnóstico, pergunte se o paciente percebe sua situação médica, se conhece a gravidade e se apresenta expectativas não realistas sobre o tratamento. Essa é a hora de corrigir informações equivocadas e moldar à notícia ao seu entendimento.

  • Etapa 3: Procure saber se o paciente deseja informações detalhadas sobre seu diagnóstico, expectativa de vida e detalhes terapêuticos ou se ele prefere pedir as informações gradativamente.

  • Etapa 4: Introduzir com delicadeza que más notícias estão por vir e dar tempo para que o paciente se disponha a ouvi-las. Evitando termos técnicos e adaptando-se ao vocabulário do interlocutor, informe aos poucos, sempre conferindo se ele está compreendendo. Mesmo que o prognóstico seja ruim, valorize os cuidados paliativos, o alívio dos sintomas e o acompanhamento.

  • Etapa 5: Dê voz aos sentimentos do paciente e da família; esteja ciente que podem ocorrer manifestações de ansiedade, raiva, tristeza ou inconformismo e você deve acolhê-las e validá-las.

  • Etapa 6: Faça um resumo das principais questões abordadas e analise se os pacientes estão prontos para discutir um plano de tratamento, com compartilhamento de responsabilidades.

Saber quando e como dar diagnóstico exige sensibilidade e percepção, podendo ser necessário mais de uma consulta. Agora que você já sabe como transmitir mais empatia para o seu paciente, clique aqui para conferir nosso post sobre a importância de uma agenda médica bem organizada.