Você já parou para pensar em como as coisas mudaram nos últimos anos? Os avanços das tecnologias, que crescem a passos gigantescos em todos os aspectos da vida moderna, trouxeram mudanças nas mais variadas esferas. E isso inclui também as consultas médicas.
Hoje em dia não é raro ir a um jantar, ao cinema ou mesmo a um barzinho com os amigos sem que o celular esteja presente. E, na maioria dos casos, eles não estão ali por motivos importantes ou urgências, mas apenas para trocas de mensagens e a constante verificação das redes sociais.
O fato é algo bastante notório, mas, para quem acha que esta pode ser uma mera impressão de quem se incomoda com a prática, os números estão aí. E eles não mentem.
De acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo Ibope, apelidada de Mobile Report, 60% dos brasileiros confirmam que utilizam seus smartphones enquanto estão em alguma situação de espera, seja ela qual for.
O estudo mostra ainda que 45% fazem uso do aparelho antes de dormir e 29% já acordam checando as redes sociais. Além disso, 18% utilizam seus smartphones mesmo quando vão ao banheiro e 23% enquanto assistem a alguma programação na TV.
O que acontece é que o aparelho, que era para ser uma ferramenta voltada para simplificar e facilitar nossa vida, nossos relacionamentos e nossas tarefas diárias, em alguns momentos acabou se tornando um hábito incômodo e porque não dizer, perturbador, capaz de causar impactos negativos em nosso cotidiano.
Com os smartphones ficou muito mais fácil resolver problemas, pagar contas, agendar consultas médicas e mais uma infinidade de coisas. Por um lado, o fato é extremamente positivo, por outro pode ser prejudicial, uma vez que o senso de urgência pode ter se perdido no caminho. Tudo ficou urgente e imediato e precisamos estar 100% acessíveis, o tempo todo, 24 horas por dia. E, por conta disso, algumas regras de etiqueta e o bom e velho bom senso são fundamentais para o bom uso dos smartphones.
Uma polêmica de 2015, porém sempre atual, trouxe esse tema para o debate novamente. É que há três anos um vídeo de um médico pediatra viralizou e causou bastante polêmica. O caso aconteceu no Hospital Geral de Linhares (HGL), no Espírito Santo. Ao longo de todo o atendimento de emergência, o pediatra permaneceu mexendo no celular enquanto o seu paciente o gravava sem que ele percebesse.
A atitude dividiu os profissionais da área. Enquanto alguns condenam veementemente o comportamento do profissional, outros o defendem acreditando que ele poderia estar atendendo o telefone em uma situação de emergência e que ele pode ter pedido licença ao paciente antes de interromper o atendimento.
De um lado, o fato de o pequeno aparelho permitir uma aproximação e um contato mais direto entre médico e paciente, incluindo até mesmo esclarecimento de dúvidas e prescrição de medicamentos. De outro, a “virtualização” do atendimento que não pode e nem deve ser substituído pelo presencial.
Além disso, o fato de um médico “atender” um paciente pelo WhatsApp enquanto atende outro em seu consultório pode fazer com que a atenção dele seja dividida. Já foi confirmado que combinar atividades do dia a dia com essas formas eletrônicas de comunicação são incompatíveis com a capacidade humana. A atenção, concentração e execução de duas tarefas ao mesmo tempo, certamente deixará uma delas a desejar. E aí, como fica?
Sobre o assunto, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, o CREMESP, posicionou-se da seguinte forma: “Por estes exemplos banais, fica claro que é totalmente impossível o uso dessas tecnologias concomitantemente com o exercício da Medicina que é muito mais complexo que dirigir, assistir a uma aula ou conversar”, informou em parecer divulgado em 2017. “Esse comportamento mais frequente entre os jovens médicos é um desrespeito para com os pacientes, pois certamente acarretam diagnósticos e condutas terapêuticas erradas, pondo em risco suas vidas”, acrescentou o Conselho.
Alguns profissionais também compartilham da mesma opinião do CREMESP e dizem que o fato de atender aos chamados no smartphone no meio da consulta desvia a atenção dos dados e informações importantes sobre o paciente que são passadas durante o atendimento e pode ainda passar a impressão de que o problema do paciente não é tão sério e que não merece a devida importância.
Mas, afinal, existe algo de mais importante do que a saúde do paciente no momento da consulta? Compartilhe conosco a sua opinião!